Sim amigos, o frila bucha ainda não acabou, e por isso sigo não podendo escrever aqui tanto quanto eu gostaria. Fiquei a semana inteira trabalhando que nem um condenado e não conseguindo deixar de ver DE ESGUELHO as notícias todas, sobre a eleição no Congresso, a sobrevida do Genocida em Chefe que ele vai ter que pagar COM A ALMA pq ACOBOU O DINHEIRO, o BBB da saturação da “cultura do cancelamento (com muitas aspas)” que eu nem tô acompanhando mas fico sabendo pq o Twitter só fala disso e do talvez mas parece que não é bem assim lançamento da candidatura do HANDRADDE à presidência pelo Petê no ano que vem.
A semana inteira fiquei ruminando sobre O Que A Esquerda Deve Fazer™ para 2022, sobre tática e estratégia, e sobre tudo que tá acontecendo fora desse Brasil zumbi sob Bozo, e como sairemos dessa (sim, é como, não se. Sairemos!) Agora, sexta à noite, tô tentando colocar no papel mais ou menos o que acho disso tudo. Tô cansado, com preguiça e já tomei duas IPINHA, mas vamo lá.
Durante a campanha pra prefeitura, falei aqui sobre o lance do Boulos ter gerado horror entre a bem pensante inteligentsia economística neoliberal ao falar que ia fazer concurso e contratar servidor em SP TAMBÉM para equilibrar um pouco o sistema de previdência do funcionalismo municipal, cada vez mais deficitário. Achei isso muito sintomático da pobreza atual do debate econômico que desconsidera como terraplanismo toda interpretação à esquerda da teoria econômica (ou seja, todo o marxismo), sendo que essa escola é no mínimo tão ciência quanto as teorias neoliberais que foram tomadas como fato natural nas últimas décadas.
O neoliberalismo foi tão bem sucedido pois, como lembra bem o excelente Tiago Soares em sua tese de doutorado, foi o último sistema totalizante, visando a criação de “um novo homem”, que sobrou após a derrocada dos outros dois projetos totalizantes (ou totalitário) do século XX, o nazifascismo e o “socialismo real” da URSS. Sim, ainda tem a China, que provavelmente será a líder global pro próximo século e além, mas o modelo chinês não deixa de ser parte do pacto neoliberal firmado com a queda soviética. No já clássico A Nova Razão do Mundo, Dardot e Laval destrincham esse novo homem neoliberal, empresário de si mesmo.
Eu e minha geração, mesmo quem caiu pra esquerda, nasceu, cresceu e virou gente segundo essa razão neoliberal. Somos os filhos da queda do Muro de Berlim, do colapso soviético e do “fim da história” com a vitória final dos EUA e da democracia (neo) liberal capitalista de mercado. A esquerda, os movimentos emancipatórios e insurrecionais, nunca morreram, ainda nos anos 90, auge do Consenso de Washington, os zapatistas mandavam seu recado, teve o movimento antiglobalização, o Fórum Social Mundial, toda aquela bagunça, mas o modelo socialista revolucionário de Lenin (e Stalin e Trotsky), Mao, Ho Chi Minh, Fidel, Che, havia sido derrotado. Os partidos social-democratas nas democracias ocidentais adotaram o ideário neoliberal. A América Latina foi atingida em cheio pelo Consenso de Washington nos anos 90, abrindo caminho pra “onda rosa” de centro-esquerda nos anos 2000, de governos mais ou menos conciliatórios e democráticos, com a Venezuela de Chávez como “socialismo possível” (com resultados bem complicados, mas enfim…)
No Brasil o modelo de conciliação do Lula foi um sucesso indiscutível, sucesso que deu um tilt tão grande na elite neoliberal neocolonial que levou a tudo que a gente viu após 2013. Mas 2013 mesmo até agora todo mundo finge que não entendeu, mas surgiu sim como um movimento legítimo à esquerda pra pressionar o governo petista a governar como esquerda. Deu bem errado, mas era isso, era uma onda de “melhoramos, mas queremos melhorar mais, queremos mais direitos, mais poder popular”. O sistema soube muito bem neutralizar ao mesmo tempo criminalizando e jogando a polícia pra cima de quem tava lá de verdade e mostrando quem aproveitou a onda como os “legítimos”, impulsionando essa extrema direita fascista tropical miliciana que apenas assumiu o poder no vácuo do golpe que visava destruir a esquerda e o PT e destruiu a direita “civilizada” que talvez nunca tenha existido.
Tudo o que rolou fez com que, hoje, a esquerda no Brasil esteja machucada, na defensiva, com uma postura até conservadora, tendo que defender o que resta de instituições da democracia burguesa, enquanto uma extrema-direita radical com teoria e prática revolucionária captura mais e mais poder. No meio disso tudo, e muito importante, o avanço indiscutível das pautas feministas, antipatriarcais, antirracistas, descoloniais, ambientalistas, todas muito necessárias, mas que parte da esquerda emasculada após o fim do bloco socialista desconfia, e que é absolutamente central para o neofascismo se organizar como rejeição e reação a isso tudo.
No mundo todo, a última década foi de avanço da extrema-direita, mas a real é que também a esquerda “pra valer” que recusa o pacto neoliberal, tem avançado e feito barulho, aqui na América Latina, com o levante forte no Chile, na Argentina, com a reação ao golpe na Bolívia, mas por todo o mundo, da Nigéria à Índia à Indonésia e aos EUA e “Primeiro Mundo” em geral também. O que parece estar putrefato é o tal consenso neoliberal e o “centro político”.
Claro que são zilhões de contextos diferentes, mas vemos por todo lado a esquerda se reorganizando, reformulando táticas e estratégica, e obtendo vitórias. Mas aqui no Brasil o estrago da operação psicológica deflagrada em 2013 foi tão grande que paira um derrotismo e um imobilismo movido a mágoa e ressentimento que dificulta uma reação. Muito se fala porque não tem rua, porque aceitamos resignadamente, e claro que além da pandemia que inviabiliza grandes protestos de rua, a guerra contra a gente foi muito bem sucedida. Ainda assim, pelas últimas pesquisas, só a esquerda tem chance de derrotar Bolsonaro e a tal frente ampla da direita “civilizada” e da esquerda domesticada já nasceu natimorta e foi enterrada com a direita toda indo pro colo do Bozo na eleição da Câmara. Ou seja, como sempre foi e será, é a esquerda contra rapa. Seria bom ter uma união à esquerda desde já pra chegar com um nome forte e coesa em 2022? Seria, mas vai ser difícil, e tudo bem. O PT vai lançar candidato, e esse candidato provavelmente estará no segundo turno, mas isso não impede outros candidatos de direita. Esse candidato provavelmente vai ser o Haddad, e o trauma de 2018 não deve fazer a gente não ver que é o nome natural mesmo, e que ele tem chance sim.
Afinal, se alguém pode ser o “Biden Brasileiro”, é o Handradde. Se fosse pra escolher, eu preferia o Boulos presidente, mas né.. O Sanders não conseguiu e os democratas foram com o centrista “boring”, e deu certo. Achei bom o “lançamento” que não foi bem lançamento do nome dele hoje pelo Lula, apesar dos pesares, pois já tá na hora de por o bloco na rua mesmo, com nomes, com discussão, porque 2022 já começou, embora 2021 seja longo. Hoje, Bozo parece forte, talvez imbatível, mas a gente ainda não tem noção da trolha que vai ser 2021 e o quanto a situação aqui vai piorar antes de melhorar e, embora ele tente fingir que não, quem tá no comando e é o responsável por essa joça é o Capitão Cloroquina.
Ao contrário do dito popular, o Biden pareceu pegar o violino com a direita e começar a tocar com a esquerda. O programa dele é o mais à esquerda no poder nos EUA desde no mínimo Lyndon Johnson em 1964, mas provavelmente desde Roosevelt em 32, e não faz feio em comparação ao New Deal, e o Joe parece disposto a implementá-lo, sem cair no erro do Obama de tentar negociar com os republicanos cada vez mais dementes. Mas vimos aqui mais perto outras táticas. Parece que Lula de alguma forma tenta emular Cristina Kirchner e Evo Morales ao já dar um passo atrás e apresentar outro como candidato. O Boulos falou bem hoje que, antes de nomes, a esquerda precisa apresentar projeto pra ganhar em 2022, mas acho que as duas coisas podem correr em paralelo. Claro que tudo isso é pensando em uma eleição “normal”, o que tudo indica que não será, com Bozo muito eficiente em corroer a democracia e instituições, mas enquanto ainda há democracia, há que se tentar.
Domingo passado briguei com um grande amigo que está em missão para espalhar a palavra do Materialismo Histórico Dialético pois, segundo ele, eu acredito no capitalismo e na ficção (segundo ele) da democracia eleitoral. Bem, só posso dizer que concordo. Fui, como ele e todos da nossa geração, criado nessa razão neoliberal, aprendi a gostar de política nesse jogo, mas concordo com ele que há um esgotamento desse caminho. Quero que haja mais gente pensando na via revolucionária, apesar das minhas desconfianças, eu não sou nada, e o caminho revolucionário já fez muita coisa foda, embora não veja nada muito animador ainda nesse sentido. Em teoria, ainda dá pra virar no voto. E é muito importante pensar em eleger o máximo possível de gente de esquerda pro legislativo, afinal estamos vendo que é ali que se decide quem manda mesmo. Vai ser jogo jogado daqui até outubro de 2022, só não pode achar que o jogo já tá perdido, pois tá longe disso. Sou um otimista incorrigível mas juro que penso isso baseado nos dados que leio da realidade. E vocês, o que acham?
Segunda vi um pouco do Roda Viva com a Erika Hilton, vereadora eleita em SP com votação expressiva, mulher negra trans e muito mais que isso, com uma fala muito forte, lúcida e embasada, e sei que como ela tem várias que tão ousando entrar na vida política enfrentando todo tipo de reação inclusive de violência e tenho muita esperança dessa galera crescer e ocupar espaço. E vejo na Alexandria Ocasio-Cortez, a popular AOC, que sabe muito bem o que quer e como conseguir, e tenho certeza que vamos ficar bem. As soluções pras tretas todas da atualidade estão aqui na esquerda, seja a revolucionária radical ou a que joga dentro do sistema, as pessoas mais preparadas, com os valores certos, tão aqui, a gente só não pode se auto-aniquilar. O grande objetivo da guerra psicológica é “tirar do inimigo a vontade de lutar” e foi isso que a direita fez nos últimos anos. Quase sucumbimos, mas a esquerda tá aí vivona, do lado do certo. E não iremos a lugar nenhum. Vamos brigar.