A Paulada Diária #042 - 20/01/2020
Adeus, Trump (mas o legado supremacista branco dele vai permanecer)
Ao meio-dia desta quarta-feira, Donald Trump deixa de ser o presidente dos EUA. É um alívio para a maioria dos que desaprovam o trabalho dele nos últimos quatro anos. Para a minoria barulhenta que ainda o apoia (ou melhor, o venera como líder de uma seita), a posse do Biden pode cair como decepção, e um gradual abandono do loser Donald, ou com raiva, e gerar mais violência pela frente, e instabilidade para o governo do velhinho que acredita na “união” entre fissuras ideológicas que hoje parecem intransponíveis.
Em outubro de 2018, após a congregação dos supremacistas, neonazistas e demais extremistas da alt-right em Charlotesville, Ta-Nehisi Coates, um dois mais sofisticados intelectuais da atualidade nos EUA, escreveu o ensaio “The First White President” (O Primeiro Presidente Negro), demonstrando didaticamente porque Trump era um representante do supremacismo branco, um veio profundo de violência que atravessa a história do país. Àquela altura, muita gente ainda tentava tapar o sol com a peneira e normalizar Trump como apenas mais um Republicano, e agora, ao revisitar o texto e ver que ele se sustenta mais agora do que quando escrito, Coates não poupa estes que normalizaram Trump porque, de alguma forma, faziam parte do mesmo pacto de branquitude que levou um sujeito incompetente, sociopata e venal ao cargo mais poderoso do mundo.
No apagar das luzes de sua presidência, quando os EUA chegam a 400 mil mortos pela COVID-19 com a percepção generalizada de que a incompetência e desconexão com a realidade de Trump provocou parte considerável dessas mortes, ele adicionou ao seu rol o monstruoso número de treze execuções de prisioneiros federais condenados á morte, após 17 anos sem execuções a nível federal. A Suprema Corte, com três juízes indicados por Trump, deu o sinal verde para o festival de morte, mas as opiniões discordantes dos juízes Sonia Sotomayor e Stephen Breyer, da ala liberal da corte, deixam claro o barbarismo da pena de morte em tempos modernos.
Gostei também desse epitáfio à altura da tragédia que foi o governo de extrema-direita, supremacista branco e quase-fascista (alguns autores bons acham que é sim fascista, outros discordam, enfim). Agora, Trump vai enfrentar a vida civil, uma avalanche de processos e uma situação financeira caótica. Boa sorte, Donald! Você vai precisar.
Só podia ouvir Jello Biafra hoje.