Bom, eu estava aqui sem vontade de atualizar a newsletter, meio MACAMBÚZIO, realmente sem energias para escrever sobre esse horror absoluto que estamos vivendo no Brasil, enquanto as mortes se acumulam e chegam mais perto (os pais de dois amigos se foram na última semana, além de tantos anônimos e conhecidos, como o Ismael Ivo, o Aloy Jupiara, a craque do basquete Ruth…) E os absurdos se acumulando. Liberação de celebrações religiosas presenciais, abertura de escolas, autorização de fura fila da vacina… Tudo jogando na nossa cara que esse lugar que vivemos não é um país, é uma terra sem lei, em que vale o cada um por si. Pela primeira vez, tenho pensado em fazer minha vida em outro lugar, outro país, ir atrás da cidadania italiana, mas no momento não tem nem como sair do Brasil, com as fronteiras fechadas, e minha vida segue aqui, minha família, trampo…
E tem a Mila, a cachorrinha que acabamos de adotar. E tem as aulas da faculdade, que começam semana que vem (pois é, inventei de fazer uma segunda graduação, Letras na FFLCH-USP), e o trampo, que tá cada vez mais difícil manter o foco pra entregar, enquanto parece que estamos caindo num abismo sem fim. Sempre me considerei um cara otimista (embora dentro de uma perspectiva realista), mas realmente está: foda. Ainda acho que vamos sair dessa, mas o trampo de reconstruir esse país será árduo, e fica essa sensação de que a nossa geração, que cresceu numa república que, apesar de tudo, parecia estar caminhando pra frente, ficou mal acostumada e deixou tudo isso que tá acontecendo acontecer, e vamos entregar um país pior pros nossos filhos (embora também ache que a “culpa” não é nossa e que pra sair dessa temos que também desconstruir esse complexo de culpa).
Mas enfim, fato é que nem ia escrever aqui hoje. Estou ensaiando um texto sobre o “pacote Biden” que redefiniu o papel do investimento público no país que há 40 anos tinha decidido que “o governo não é a solução para os nossos problemas, o governo é o problema” e o que isso poderia significar para um plano de governo à esquerda nas eleições do ano que vem, ao que tudo indica com o véio Lula de novo. Mas não tava saindo. Aí hoje começou a pipocar notificações de novas assinaturas aqui nesta Paulada Diária que não é diária. Foram 30 ao todo. Fiquei curioso para ver de onde vinha e achei o post da querida Cássia Alves no LinkedIn indicando essa humilde tentativa de newsletter ao lado de projetos bem mais profissionais. Então veio a OBRIGAÇÃO de escrever algo e dar as boas vindas aos que chegam.
Bom, meu nome é Paulo, tenho 38 anos, nascido e criado nessa São Paulo de Piratininga que tanto amo apesar de tanto maltratar seus moradores. Atualmente moro aqui na velha Lapa, com minha CONJE Janaina, ADEVOGATA, educadora e da “turma dos direitos humanos” e há um mês com a vira lata Mila, e estamos há 13 meses no esquema quarentena, trabalhando de casa. Desde criança era fissurado em ler e daí veio o gosto por escrever e o caminho natural pela faculdade de jornalismo, na gloriosa ECA-USP, onde conheci a Cássia e um monte de gente bacana que são grandes amigos até hoje. Desde 1996, quando tinha 14, SURFO A WEB e vi e vivi todas as transformações da internet, onde fiz amigos e desafetos e dei vazão aos meus escritos em e-zines, webzines, blogs, no orkut, no Feice, no Twitter, no Medium e agora nesse Substack. Assim, a maior parte da minha experiência de trabalho foi com o meio digital, seja em veículos jornalísticos ou trampando em comunicação institucional, seja pra dentro ou pra fora, para empresas, marcas e organizações em geral (de multinacionais ao Petê, passando por ONGs e órgãos públicos.
Sim, sou de esquerda, progressista, desde que passei a acompanhar política, mas já passei por fases mais ou menos radicais, mais anarquista, mais comunista, mais social democrata, e gosto de ler, conversar e debater com gente de todo jeito. Todo esse processo que veio de junho de 2013, quando eu tb tava na rua e vi a maionese desandar em tempo real, passou pelo golpeachment na Dilma, Lava Jato, prisão do Lula e a eleição do Verme-Mor, e o que ele fez pra destruir o país na presidência, ao mesmo tempo de tornou ainda mais engajado politicamente e me permitiu fazer coisas legais e contribuir minimamente na resistência a essa tsunami de chorume, mas também tem sido muito duro e desgastante. No que me cabe, tento viver minha vida de acordo com o que acredito, sabendo que as contradições e incoerências são parte.
Decidi começar a Paulada Diária como newsletter no começo de novembro do ano passado, quando estava num período devagar de trampo e tava rolando a eleição nos EUA, e resolvi fazer uma “cobertura” da noite das eleições e das análises sobre a vitória do Biden, o choro do Trump e a perigosa recusa dele fazer a “transferência pacífica de poder” que culminou na invasão do Capitólio. Acabo acompanhando bem o contexto dos EUA pelas mídias que consumo e acho aquele país fascinante em suas maluquices e contradições de Império, sede do capitalismo mais selvagem mas com uma cultura rica, diversa e muita coisa legal acontecendo justamente por ser a “Roma” atual. Consegui manter um ritmo quase diário até o fim de 2020 mas em 2021 aumentou a carga de trampo (grazadeus) e acabei diminuindo a frequência aqui, mas quero manter a Paulada ativa e essa nova leva de assinantes dá um ânimo pra continuar e espero que gostem.
A música tem sido uma das coisas que me mantém vivo e querendo viver, mesmo quando tudo parece desabar. Não sei tocar nada e não tenho formação musical mas a música me toca, emociona, traz lembranças, é parte de mim, e embora deteste o clichê “eclético” não sei como definir alguém que tem entre as “tocadas recentemente” no Spotify Zeca Pagodinho, Fundo de Quintal, Ravel, Bob Marley, Metallica, Nirvana e Frank Sinatra. Tento sempre colocar aqui na Paulada o som que ouvi no dia. Ultimamente estou meio obcecado com o CRÁSSICO ao vivo do Zeca Pagodinho de 1999, talvez por ter sido trilha de tantos churrascos e sintetize tão perfeitamente tudo que eu gosto no Brasil e que no último ano estamos sendo impedidos de viver. Mas ouvindo aqui no fone dentro de casa me transporto pra esses rolês aglomerados com amigos curtindo a vida sem se preocupar com um vírus mortal e um verme na presidência que é o maior vetor da peste. Vamos sair dessa e quando tiver o churrascão da turma pós-pandemia vou tocar esse disco inteiro no repeat. No meu Brasil, Zeca é o presidente.
Sempre bom te ler, amigo! Feliz com a volta e escreva quando puder. :)