A Paulada Diária #045 - 03/03/2021
Estou vivo! (ainda...) Um ano de quarentena, e de volta à estaca zero
Putaqueopariu, quase um mês que não escrevo aqui. Paulada mensal agora? Não tenho nem cara mais para pedir desculpa a vocês assinantes FIÉIS, mas realmente tá foda, de repente entrou um monte de trampo (seria a RECUPERAÇÃO EM V do Guedes?) e tá difícil fazer o trampo com tudo isso que estamos testemunhando que não tenho nem forças de processar aqui na letra escrita, afinal, é tanta coisa.
Tô querendo parir há tempos um APANHADO que tenho compilado sobre o que significa a Liberdade de Expressão no século 21 a partir de uns caras que ajudaram a redefinir o conceito no século 20 e morreram recentemente, exemplificando uma geração que vai embora (não só de COVID). Mas não foi hoje que consegui desenrolar esse.
E na real não tô com a mínima vontade de escrever sobre o tema inescapável, hoje, dia mais letal da pandemia no Brasil até aqui, quando registramos aumento de 11% nas mortes enquanto no mundo cai 6%, sem vacina, sem auxílio, sem governo federal, reféns de um genocida psicopata duzinfernos e das forças armadas que só servem para esmagar o povo. Mas tenho que escrever, né. Tenho que processar isso tudo.
Sei lá, é aquela sensação de resignação, cansaço, cansaço de sentir ódio, esgotamento, misturado com o que resta da tal RESILIÊNCIA (desculpem) e o instinto SOBREVIVENCIALISTA (que aliás está em alta no Brasil distópico) e tentar pensar que vai acabar, vai ter outro lado, tanto para o vírus quanto para o verme. Pode não parecer, mas sou um otimista incorrigível e neste último ano sempre tive a certeza de que ia ser relativamente rápido, se livrar do verme e do vírus, nessa ordem (pois o verme espalha o vírus). Agora, não sei mais.
Ao mesmo tempo em que, no infinito DOOMSCROOLING no Twitter parece que “é o fim da aventura humana na Terra” e o céu está desabando, olho à volta e parece que está tudo meio que normal. Tem criança uniformizada de máscara saindo da escola aqui perto de casa que ficou deserta durante praticamente todo o ano letivo de 2020. O boteco tb tá aberto. Teve vestibular da Fuvest (e eu prestei. longa história, conto outro dia…), de máscara PFF2. Saindo do segundo dia da segunda fase, atravessei a pé da UNIP da Marquês até minha casa, aqui num cantinho NONDESCRIPT da Lapa, pela wasteland industrial da Água Branca, a passarela sobre a linha do trem e pela gentrificante Vila Romana, sol seco e quente, e deu vontade de parar no glorioso GHASSAN (que constatei que está vivo, assim como dona Tereza) e pedir uma Antarctica trincando e duas empadinhas (saudades…), mas algo me disse pra passar reto e só pegar uma esfiha pra viagem na Pastelaria Brasileira (a da Monteiro de Melo) pra comer em casa.
Vai dar um ano que não sento num boteco, peço uma breja de garrafa gelada como só no boteco é gelada, copo americano, algum MASTIGO tipo um torresmo, uma pururuca, um ebicen, e fico só admirando os detalhes do estabelecimento. Vai dar um ano que não entro num ônibus, no metrô, trabalho em um prédio comercial. Que não como no restaurante, não vou ao cinema, teatro, show, baladinha, no estádio. Passou o Carnaval e não teve Carnaval, pensei em escrever aqui sobre como o não-Carnaval bateu em mim como nada havia batido nos 11 meses anteriores, mas desencanei…
E passei muito bem esses 12 meses. Tive excelente companhia da minha conje, guerreira, parceira, leoa Janaina. Cozinhei, lavei louça, estendi roupa, passei aspirador, cuidamos das plantas, damos uns upgrades na casa pra melhor aproveitá-la, tomamos sol na laje (com direito a ducha portátil mundrunga), fizemos pão, pizza, hamburguer, churrasco, focaccia, pão de queijo, bolo, yoga, ginástica, assistimos Mad Men, Sopranos, Casa de Papel, Dark, The Americans, edições DE COLECIONADOR do Jornal Nacional e joguei pôquer virtual (ela ficou no buraco…).
Agora, parece que o negócio é voltar aquele começo de abril, quando o bicho pegou e ficamos sei lá, mais de mês sem por o nariz pra fora de casa. Depois claro que demos umas escapadas SEGUINDO TODOS OS PROTOCOLOS, vimos alguns poucos parentes e amigos mais chegados, tivemos que cuidar dos velhos… Foi um ano bem família (às vezes achei isso um saco, mas pensando bem, foi importante).
As próximas semanas e meses serão duras, tensas, tristes, vamos sentir medo, ódio. Só temos a nós mesmos. Estamos vendo aonde o individualismo nos levou, e agora é hora de ajudar quem tá pior que você. Solidariedade, ajuda mútua, colaboração, serão as ferramentas de sobrevivência e de organizar o depois.
Não aguento mais essa rotina de ter trabalho, de precisar fingir que está tudo bem pra conseguir trabalhar, de conseguir entregar o trampo mas perder horas querendo me informar sobre o que está acontecendo e só sentir medo, ódio, ou tédio, de ter que curtir a minha casa pq não tem outra opção (eu adoro minha casa, mas tenho certeza que vocês entendem). E, de novo, tô bem. Só imagino quem tá passando por tudo isso, por exemplo, com filho.
Nas próximas semanas, estaremos presos em casa, olha aí a oportunidade pra pensar e articular como vamos nos livrar do verme que impede o combate ao vírus. Teremos que fazer isso. Temos que matar o verme antes que ele nos mate. Ivermectina não funciona com esse verme. Impeachment parece que também não… Qual vai ser?
Também não devo ser o único que se angustia pensando “como está tudo isso acontecendo e o povo não se revolta? NÓS não nos revoltamos?” Bom, tentei me responder essa pergunta nessa THREAD no Twitter, fica como HIPERTEXTO a esse texto.

Vamos nos proteger, nos ajudar e, estando vivos, vamos derrubar essa necrocracia e voltar a sambar, fazer carnaval, jogar futebol, tomar cerveja no boteco, comendo um espetinho da churrasqueira que fica na calçada (SAUDADE INGRATA).